Usinas Hidrelétricas: Será o Fim de Uma Era?
O Brasil é famoso por possuir uma matriz energética renovável. Lembro de uma aula do mestrado de energias renováveis na Espanha, em que o professor citava nossa matriz como um exemplo e quão gigantesca era nossa Itaipu.
Hoje são 219 usinas hidrelétricas em funcionamento, responsáveis por mais de 64% da geração de energia elétrica, segundo o Banco de Informações de Geração da ANEEL. Ainda somos muito dependentes de usinas hidrelétricas (UHE) e elas representam um papel vital em nossa matriz energética.
Mas estamos mudando. Na opinião de agentes do setor e de autoridades do governo, com a venda da Eletrobras a tendência é a redução de projetos e construção de grandes usinas.
Isso porque a Eletrobras sempre participou de grandes empreendimentos como as hidrelétricas de Belo Monte (dona de 49,98%), Santo Antonio (39%) e da usina de Jirau (40%).
Restrições ambientais aliados a baixos recursos do governo, são fatores que apontam para o fim das grandes hidrelétricas ou ao menos uma boa redução.
O Plano Decenal de Expansão de Energia, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aponta apenas 15 usinas que podem entrar em operação até 2026, sendo a maior delas um pouco mais de 700MW.
O plano também mostra que grande parte do potencial hidrelétrico para expansão da oferta de energia se encontra na região norte, trazendo com isso uma série de desafios ambientais. O projeto de licenciamento da usina de Tapajós, por exemplo, foi arquivado pelo Ibama no ano passado e o governo sabendo das resistências ambientais e indígenas anunciou que não tem intenção de brigar pelo projeto.
"Nós, na EPE, resolvemos dar um passo para trás para estruturar o processo nas grandes hidrelétricas. Existe um paradigma de que toda hidrelétrica é boa e barata. Estamos estudando para ver se todos os projetos são certos. Não é fazer qualquer hidrelétrica de qualquer forma", explicou o presidente da EPE, Luiz Augusto Barroso.
O secretário executivo do ministério de minas e energia, disse que o potencial do brasil até 2050 é de gerar 50 gigawatts através de usinas hidrelétricas, porém apenas 23% desse total se encontram em áreas que não interfeririam em terras indígenas, unidades de preservação e quilombolas.
Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL e presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace), acredita que as incertezas de financiamento e regulatórias impedirão a construção de mais hidrelétricas de grande porte.
“A privatização da Eletrobras é um fator relevante. Não existiriam ou atrasariam muito as obras de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. É por meio da Eletrobras que o governo consegue interferir na liberação de licenças ambientais em prazos razoáveis. Sem ela, tudo isso ficará mais difícil. Ainda assim, compensa a privatização, pois as obras acabam custando bem mais, apesar das licenças", disse Santana.
Hoje temos barreiras fiscais e ambientais mais rígidas, que não existiam antigamente o que viabilizava esses empreendimentos.
Agora para atender à crescente demanda, o Brasil caminha em direção a geração distribuída e projetos de energias limpas, como vimos nos últimos leilões. Usinas eólicas, solares, hidrelétricas de pequeno porte e a descentralização da geração de energia, mudarão nossa matriz energética.
"A tendência é geração mais próxima da carga distribuída. O futuro são as renováveis, como eólicas e usinas menores. O caminho vai ser esse. A tendência é muito mais sistemas menores do que as hidrelétricas", disse João Carlos Mello, da consultoria Thymos Energia.
A geração distribuída é uma tendência mundial. E nós estamos caminhando para isso também. Hoje já são mais de 19 mil unidades consumidoras, em sua maioria residências, que geram sua própria energia e a ANEEL estima que até 2024 serão mais de 800 mil.
Fontes:
Baseado em: Época Negócios
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